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Radicalização na questão do gás natural

Veja análise de Paulo Homem (paulo@arkoadvice.com.br), analista político da Arko Advice, sobre a questão do gás natural.


A relação entre a Bolívia e seus vizinhos no campo energético permanece instável. Depois das  invasões aos campos de produção de petróleo e gás da Petrobras em território boliviano em maio
passado, além da nacionalização destes e de todos os demais campos administrados por empresas  estrangeiras, perdura o clima desconfortável e de preocupação entre os investidores que atuam no
país, mesmo passado alguns meses de negociações.


Recentemente, após a demissão do moderado Juan Carlos Ortiz da presidência da Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos, o presidente boliviano Evo Morales indicou para o cargo o radical Manuel Morales. A indicação de Manuel é uma clara sinalização da posição do governo boliviano em endurecer as negociações com as empresas estrangeiras exploradoras de petróleo e gás no país.


Ano passado foi fechado um acordo que aumentou o valor do gás vendido para a Argentina. Agora, o presidente Evo Morales quer que este preço de US$ 5 por milhão de BTUs se estenda ao gás
repassado à Petrobras, que hoje paga US$ 4,3. Porém, a estatal brasileira, apesar de dizer que não irá pagar o valor exigido pelo governo boliviano, tende a ceder, caso a Bolívia não resolva voltar atrás.


Evo vem ameaçando inclusive cancelar sua viagem ao Brasil, prevista para o próximo dia 14, caso não haja um pré-acordo entre a YPFB e a Petrobras. O presidente boliviano parece estar cada vez mais
preocupado em participar diretamente do processo de negociação sobre o preço do gás.  Possivelmente, vendo nesta uma possibilidade de recuperar sua popularidade, que vem se desgastando de forma gradativa.


A questão que se põe neste momento é como Evo Morales fará para recuperar seu prestígio popular. Apenas engrossando as negociações não será suficiente. Os investidores continuam no país, mas não
vem investindo. Sem a participação dos investidores externos, a Bolívia não tem opção para alavancar a sua exploração de petróleo e gás. A população boliviana, inflamada pelas declarações e ameaças
do governo, segue na linha radical.


No último final de semana, soldados e policiais bolivianos
conseguiram reprimir a ação de protestantes que haviam invadido uma usina de petróleo e gás da Shell em Camiri, no sudeste do país, na região de Santa Cruz. Assim, Evo vem se aproximando de
uma encruzilhada. Se radicalizar, perde os investimentos estrangeiros e fica sem recursos para explorar as reservas bolivianas. Se resolver ceder, garante os investimentos, mas perderá seu declinante apoio popular.