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Nos últimos dias, a imprensa capturou dois fatos preocupantes. Ocorridos em contextos diferentes, eles estão intimamente relacionados por representarem a consolidação de práticas autoritárias, que afetam o futuro da democracia na América Latina. 


O primeiro foi uma declaração feita pelo ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Abdenur, que criticou o fato de o Itamaraty obrigar diplomatas à leituras de cunho ideológico visando alinhamento de pensamento com a política externa defendida pelo PT.


O responsável pela extravagância, motivo de preocupação e chacota entre diplomatas, é o secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães. Para muitos, trata-se de uma espécie de Escolinha do professor Raimundo.  Guimarães, segundo a maldade de alguns colegas, nunca bateu bem da cabeça, e teria perdido o senso do ridículo ao tentar enquadrar os diplomatas em sua linha ideológica.  


O pior é que isso acontece no governo Lula, formado por gente que sofreu no passado com o patrulhamento ideológico, restrições às liberdades públicas e a repressão à diversidade de idéias. Tudo dentro da bovina complacência de muitos e cumplicidade autoritária de outros.


Abdenur disse, com razão, que nem no tempo da ditadura acontecia algo semelhante no Itamaraty. É uma vergonha, diria Boris Casoy. Samuel deveria ir ao Congresso explicar o propósito de uma prática dessas. 


O segundo fato ocorreu na Argentina, onde o governo Kirschner é acusado de manipular os índices de inflação. O episódio motivou a demissão de responsáveis pela coleta de dados e uma declaração de Roberto Lavagna (ex-ministro da economia e candidato presidencial de oposição) parecida com a reação de Abdenur: nem nos tempos da ditadura os índices foram manipulados.


Em contextos diferentes, ambas as situações refletem a degradação dos valores democráticos na região. Nunca foram lá grande coisa. Governos amparados no populismo e no assistencialismo consolidam-se e consideram-se suficientemente fortes para adotar iniciativas como as denunciadas.