Etanol
27 de fevereiro de 2007
A imprensa e o clima político
28 de fevereiro de 2007
Exibir tudo

Lula tem a faca e o queijo

Murillo de Aragão

 

Depois de quase seis meses de eleito dois de segundo mandato , o presidente Lula ainda não conseguiu estruturar seu novo governo. Apesar do recorde de imobilidade administrativa, é preciso reconhecer os obstáculos do sistema presidencialista na formação do Ministério e busca de base parlamentar, especialmente sob o modelo eleitoral vigente no Brasil:


 



  • Pulverização partidária. Vitória do candidato não significa conquista de maioria parlamentar;

 



  • Falta de consistência programática dos partidos. Eles se subdividem ou reagregam em tendências, blocos e frentes;

 



  • Centralização excessiva do poder no Executivo. Representação parlamentar relegada a um papel de coadjuvante.

 


Em virtude de circunstâncias políticas e econômicas altamente favoráveis, Lula experimenta uma condição excepcional, pode-se dizer jamais desfrutada nos 22 anos de redemocratização pelos quatro presidentes anteriores.


 


Lula venceu com 58,2 milhões de votos, esmagadora maioria de 60,83%.


 


Na campanha, livrou-se da tutela do PT e dos dois facilitadores do primeiro mandato (Dirceu e Palocci), todos arrastados pela correnteza das denúncias de corrupção.


 


De quebra, aniquilou a oposição com prática e discurso populista e despreza um Congresso campeão da venda de apoio político.


 


Lula ostenta também formidáveis indicadores econômicos:


 



  • inflação desprezível
  • reservas chinesas (quase US$ 100 bilhões)
  • insignificante risco país
  • bom volume de entrada de capitais estrangeiros
  • dólar baixo.

 


Dólar barato significa aumento de renda da população assalariada e maior acesso ao turismo internacional por parte da classe média.


 


Com esse patrimônio eleitoral, Lula não precisa de Ministério. A rigor, não precisa sequer de governar, como de fato não governa desde a conquista do segundo mandato.


 


Seus problemas são:


 



  1. risco de descontentamento de aliados importantes e retaliação por parte da banda do PMDB da Câmara, o partido mais forte do momento, e com isso inviabilizar a aprovação do PAC;

 



  1. persistência da estagnação econômica, que segrega 50 milhões de habitantes na carência de serviços públicos de educação, saúde, transporte, habitação, saneamento, infra-estrutura urbana;

 


     3.   desentendimentos freqüentes na base parlamentar, elevando assim o custo do apoio no Congresso com perigo de estressantes votações de matérias relevantes para agenda legislativa.