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Bush no Brasil

Murillo de Aragão


 


O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, chega nesta quinta-feira (08) ao Brasil para uma visita de dois dias. Vem movido por interesses tanto políticos quanto econômicos.


 


O grande destaque do encontro que manterá com o presidente Lula em São Paulo será a concretização de uma parceria estratégica na produção de etanol. O tema, que ganhou espaço na mídia nas últimas semanas, apresenta uma oportunidade singular de melhoria efetiva nas relações bilaterais, haja vista a convergência de interesses na ampliação do uso do álcool combustível.


 


Apesar da convergência, o presidente Lula sinaliza que deverá pressionar seu colega norte-americano para uma maior abertura do mercado estadunidense para o etanol brasileiro. Deverá encontrar um Bush resistente nesse tópico. Na verdade, o maior leque de oportunidades parece se abrir, no momento, na ampliação da capacidade de produção (gerando maior estabilidade no fornecimento) e na difusão da alternativa energética mundialmente, a começar pelo Caribe. Aqui, as possibilidades de parceria soam mais promissoras no curto prazo.


 


Também no campo econômico, o presidente Lula deverá retomar a discussão a respeito da necessidade de dar impulso político à conclusão da Rodada Doha ainda no primeiro semestre de 2007. O assunto, que pouco tem avançado recentemente, deverá voltar à agenda bilateral na visita que o presidente Lula fará aos Estados Unidos no final do mês (31).


 


Politicamente, a visita de Bush ao Brasil e a outros quatro países da América Latina, destina-se a recompor o capital político depreciado ao longo de anos de negligência para com o subcontinente. Mais particularmente, Bush tentará reaproximar seu país do restante do continente e contrapor a crescente influência do venezuelano Hugo Chávez. A questão democrática e o peso da Venezuela no continente deverão constar da agenda bilateral, apesar da reticência do presidente Lula em discutir Chávez com Bush.


 


Para o Brasil, o encontro presidencial de São Paulo abrirá nova oportunidade para a discussão da reforma da ONU, em especial de seu Conselho de Segurança. É pouco provável que o tema avance, mas o presidente Lula deverá pressionar seu colega norte-americano uma vez mais.


 


A principal convergência no campo político deverá ficar por conta do equacionamento da questão haitiana. O Brasil tem se ocupado da manutenção da paz no país caribenho. Os Estados Unidos devem acenar com o aumento da ajuda financeira que oferecem.


 


Para a diplomacia brasileira, cabe observar, o restante da viagem hemisférica do presidente norte-americano deverá ser acompanhado com interesse, em especial em sua parada no Uruguai haja vista a possibilidade de que as relações bilaterais Uruguai-Estados Unidos venham a redundar em um acordo comercial bilateral que inviabilize a permanência uruguaia no Mercosul. (A visita do presidente Lula ao Uruguai na última semana objetivou antecipar-se a eventuais desdobramentos desfavoráveis ao bloco sul-americano, acenando o Brasil com melhores condições para a permanência do Uruguai no Mercosul.) Nada que atrapalhe, porém, o bom andamento da conversa presidencial em São Paulo.


 

Na sempre complexa agenda bilateral Brasil-Estados Unidos, a visita do presidente norte-americano ao País poderá marcar um momento de importante pragmatismo. Mais do que belos discursos, o que está em jogo é a construção de uma parceria estratégica viável, em uma área em que há evidente convergência de interesses.