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Projeto de TV Pública nasce com viés autoritário

Murillo de Aragão


A posse de Franklin Martins na Secretaria de Comunicação da Presidência da República deu mais clareza ao projeto da TV pública que Lula tem em mente: 1. A equipe responsável pelo assunto trabalha apenas com a decisão de fazer, mas não sabe direito o que fazer; 2. Seu modelo será a BBC de Londres.



Ou seja, como de costume, em vez de lançar uma discussão com base num projeto definido, o PT faz tudo diante da opinião pública, desde o início do processo, o que muitas vezes contribui para dar errado, obrigando ao recuo. Foi assim com o Conselho de Comunicação Social.



A escolha da BBC como inspiração está mais de acordo com a vocação intervencionista do governo, que busca impor ao público seus padrões de comunicação. Isso ocorre justamente quando os ingleses descobrem a necessidade de rever o próprio modelo.



A fórmula americana da PBS parece mais democrática e é considerada padrão de jornalismo de qualidade. O governo financia parte do sistema por meio de verbas previstas no Orçamento (o restante vem do bolso do telespectador), mas não participa da gestão, conduzida por um conselho. Na BBC paga-se ao estado uma mensalidade cara para a renda média brasileira R$ 534, segundo Franklin.



O tipo de TV pública conduzido pelo governo inglês passou a ser questionado quando a suposta independência da BBC foi rompida em 2003. O repórter Andrew Gilligan ouviu de uma alta fonte da área de inteligência que o governo manipulara o relatório com base no qual o primeiro ministro Tony Blair defendeu a invasão do Iraque. O texto afirmava que Saddam Hussein tinha armas de extermínio.



O governo pressionou o jornalista, ele revelou dados sobre a fonte (rompendo código profissional que a protege) e ela foi rapidamente identificada e exposta è perseguição política. Tratava-se do dr. David Kelly, que acabou se suicidando.



No Brasil, para começo de discussão as empresas de mídia eletrônica lembraram ao presidente que a TV pública já existe: é a rede das 26 emissoras educativas. A julgar pelo tratamento dado às agências reguladoras pelo governo, é difícil imaginar um jornalismo público independente. E sem isso não existe imprensa livre.