Nesta segunda-feira e em meio à crise dos controladores de vôo, Lula inaugurou a terceira fase de seu governo. Na primeira, que durou até a saída de Palocci, Lula compartilhava o poder com José Dirceu e com o ex-ministro da Fazenda.
Havia uma divisão clara de atribuições, onde o papel de Lula era representar a face popular do governo. Palocci tocava a economia e Dirceu era uma espécie de primeiro-ministro, metendo-se em todas as áreas da administração. Ou seja, Palocci era o presidente da economia e Dirceu o presidente do governo.
A segunda foi a fase do Lula candidato, tratando de viabilizar a sua reeleição e escapar das armadilhas do mensalão e dos aloprados de Mercadante.
A lógica era vencer a qualquer custo. Governar não era tão importante. Tanto que, apenas a área econômica, o programa Bolsa-Família e a distribuição de verbas para aliados funcionaram adequadamente no período pós mensalão até as eleições.
A terceira fase que ora se inicia será marcada por Lula desempenhando o papel de presidente de verdade, sem dividir o poder com ninguém ou ter que se submeter ao risco econômico da Era Palocci nem aos ditames da campanha eleitoral. Lula, hoje, é mais do que o presidente. É o comandante do seu governo.
A reforma ministerial é a demonstração de que o presidente Lula deixou de comprar idéias prontas de conselheiros que perderam o emprego como José Dirceu e Antonio Palocci e agora faz tudo ele mesmo.
No novo Ministério, montado pacientemente na solidão do segundo mandato, não há homens fortes nem estrategistas, e sim operadores, a exemplo de Mares da Guia na Coordenação Política, Geddel Vieira Lima na Integração e Stephanes na Agricultura.
O toque especial do chef Lula está na politização da Esplanada, a partir da abertura total do governo aos aliados, em troca de apoio nominal recorde de 376 deputados (73,3% da Câmara).
O sucesso da nova receita, que mistura PT e PMDB, donos de 60% do primeiro escalão, será medida na dezena de embates políticos prevista para o próximo mês (veja nota Temas importantes para o mês de abril).
Segundo o ex-porta-voz da Presidência André Singer, Lula mudou muito de 2002 para cá, especialmente em relação à maneira de tomar decisões. Antes, por desconhecimento da pauta de problema que chegava à sua mesa, ele era envolvido por interminável seqüência de reuniões e acabava cedendo à equipe econômica, pois sua prioridade era a estabilidade.
Hoje, mais experiente, sem aflições econômicas sobre a mesa e embalado pela espetacular vitória eleitoral devida unicamente às opções políticas que fez em plena crise do mensalão, o presidente passou a se concentrar mais nas próprias decisões, nas palavras de Singer. Ele ouve muito dona Marisa.
Outra diferença importante é o papel da estrutura administrativa montada para respaldar a nova equação decisória de Lula, fruto da substituição do ex-deputado José Dirceu pela ministra Dilma Roussef, que é muito mais organizada.
Técnicos versados numa variedade de assuntos correspondentes à agenda do dia-a-dia do poder materializam as decisões de Lula, um processo que o coloca em contato direto com os problemas e evita a dispersão da fórmula anterior.
Na prática, o presidente trocou o núcleo duro pelo prefiro errar sozinho. No episodio dos controladores de vôo, Lula abriu um precedente ao quebrar a hierarquia militar. Agiu por sua conta e risco. Vamos ver se vai dar certo.