O ministro das relações exteriores, Celso Amorim, inicia nesta quarta-feira (11) uma visita oficial de três dias à Índia. No país asiático, Amorim será recebido pelo presidente Abdul Kamal e pelo primeiro-ministro, Manmohan Singh, e se encontrará com os ministros indianos das relações exteriores, Pranab Mukherjee, e do comércio, Kamal Nath, e com o assessor de segurança nacional da Índia, Mayankote Kelath Narayanan.
Na agenda bilateral, que no governo Lula assumiu status prioritário (no bojo da aproximação com os grandes países emergentes), temas como energia, agricultura, ciência e tecnologia, educação, cultura e defesa são certos, bem como o incremento das relações comerciais e dos investimentos e a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Formalmente, Amorim participa em Nova Délhi da III Reunião da Comissão Mista Brasil-Índia e da I Reunião do Diálogo Estratégico sobre Segurança Internacional.
O grande destaque da viagem do chanceler brasileiro a Nova Délhi, no entanto, deve ficar por conta do encontro que manterá já a partir desta quarta-feira com o ministro indiano do comércio, Kamal Nath, o comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, e a representante comercial dos Estados Unidos, Susan Schwab. Na quinta-feira (12), juntamse aos quatro os ministros de comércio do Japão e da Austrália.
Encarregados por seus países de conduzir as negociações comerciais globais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), tentarão alcançar na capital indiana as bases para um acordo que possibilite a conclusão da Rodada Doha ainda no primeiro semestre de 2007.
Se tudo correr surpreendentemente bem no encontro de Nova Délhi, brasileiros, indianos, europeus e norte-americanos (e seus colegas japoneses e australianos) deverão consolidar uma proposta de acordo a ser apresentada no início de maio para os demais membros da OMC, indicando ser possível um acordo comercial amplo ainda em 2007. A partir daí, o principal problema residiria em convencer os demais 145 países (aproximadamente) a aceitar a proposta de Nova Délhi.
O problema, no entanto, é que apesar da recente onda de esperança, manifestada
no início do mês pelo presidente Lula, nos últimos meses nenhum avanço significativo naquilo que existe de substancial nas negociações (ou seja, sinalização de cortes de tarifas e subsídios nas agrícola e industrial).
Emblemático, nesse sentido, continua a ser o capítulo agrícola, que enfrenta oposição a maiores concessões em seus três pilares: os europeus resistem a uma maior abertura de seu mercado e os norte-americanos relutam em cortar o apoio a seus produtores, enquanto países os mais variados, desde membros do G-20, como a Índia e a China, até membros do G-10 (Japão e Suíça, por exemplo), insistem em extensas listas de produtos sensíveis não sujeitos, portanto, às concessões mais amplas. Somem-se a isso a recalcitrância de países emergentes em fazer concessões nas áreas industrial e de serviços, situações particulares (como a eleição francesa e seu impacto sobre a posição da UE) e o clima de saturação que parece tomar conta dos negociadores e o quadro que se desenha para esta semana não parece dos mais promissores.
Mantidos os principais entraves às negociações, o mais provável é que o encontro desta semana concentre-se na elaboração de um calendário para o prosseguimento das conversas, prevalecendo a percepção de que mais vale esperar por um acordo que venha repleto de conteúdo fruto da superação, aparentemente distante, dos persistentes entraves do que um acordo pro forma esvaziado de substância. Um eventual novo calendário tenderia a postergar a conclusão da Rodada para 2008 ou 2009 e priorizar encontros mais amplos, com a presença de todos os negociadores em Genebra, já a partir das próximas semanas. Este parece ser o resultado mais provável da incursão do ministro Amorim às terras indianas nesta semana.