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O presidente continua blindado


Murillo de Aragão


Obviamente, seria muito melhor se a Operação Navalha não tivesse atingido aliados do presidente, nem chegado ao seu Ministério. Mas, infelizmente, atingiu quadros importantes da sua base política, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, e acabou resultando na saída de Silas Rondeau do Ministério de Minas e Energia.



Graças ao bom humor do mercado, ao cenário externo favorável e aos fundamentos da política econômica a tendência é que o escândalo não contamine o mercado.



Sem abalos na economia, parece pouco provável que a popularidade do presidente Lula sofra desgaste elevado, embora possa haver algum impacto junto aos formadores de opinião. Ao contrário do escândalo do mensalão, por exemplo, a Operação Navalha não chegou ao Palácio do Planalto nem aos familiares do presidente.



De acordo com pesquisa CNI/Ibope de abril, a avaliação ótimo/bom do governo é de 49% em abril, a regular, 33% e a ruim/péssimo, 16%. A aprovação pessoal do presidente é de 65% e 62% afirmaram que confiavam nele.



Blindado, Lula tem mais espaço para agir como bombeiro e evitar danos maiores para sua administração. Suas críticas moderadas à Polícia Federal, ao mesmo tempo em que asseguram autonomia às investigações, revelam que Lula não quer perder o controle da situação nem ser acusado de omissão. É a atitude certa no momento.



No entanto, o presidente não deve baixar a guarda. Seria desejável que apoiasse a CPI da Navalha como forma de produzir avanços em nosso sistema político. Como parece ser inevitável, o caminho seria apoiá-la. A resistência do governo, no entanto, deve-se a dois aspectos principais.



O primeiro deles é o risco de paralisação de votações importantes no Congresso Nacional. Para se ter uma idéia, na semana passada a Câmara votou apenas duas medidas provisórias (MP 351/07 e 341/07) e evitou que a oposição levasse para exame do plenário projeto de lei que estabelece uma política de reajuste para o salário mínimo.



Havia entendimento para concluir a votação do fim do voto secreto no Legislativo e o aumento do Fundo de Participação dos Municípios, mas isso não aconteceu. No Senado, apenas três MPs (341/07, 339/06 e 347/07) das oito que estavam na pauta foram votadas.



Vale lembrar que remanescem temas importantes do PAC no Congresso, como o projeto que limita gasto com pessoal, o que trata das agências reguladoras, a lei do gás, dentre outros. Isso sem falar na reforma tributária e previdenciária, que deve chegar ao Congresso no segundo semestre.



Outro é o desgaste da principal força política de apoio do governo, o PMDB. A Operação Navalha atingiu vários partidos políticos. Mas parece ter afetado mais seriamente o PMDB: Silas Rondeau deixou o Ministério de Minas e Energia, Renan Calheiros foi alvo de grave reportagem da revista Veja e as nomeações para os cargos de segundo e terceiro escalões estão suspensas.



No cenário de curtíssimo prazo, o escândalo não deve afetar a relação do partido com o governo. Mas, dependendo do que ainda possa vir, o quadro pode mudar de figura.



Como o Congresso atua sempre por provocação do Executivo, cabe ao presidente Lula trabalhar para que os projetos de interesse do Executivo continuem avançando de forma consistente.