Em seminário promovido pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) nesta quarta-feira (18), na Câmara dos Deputados, analistas defenderam um papel mais forte do Legislativo no combate a crise financeira internacional. O cientista político Murilo Aragão apontou oportunidades para o Brasil e o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Antônio Augusto de Queiroz, destacou o papel a ser exercido pela esquerda brasileira neste processo.
Aragão descreveu as principais consequências da crise no mundo como a redução dramática do crédito, a quebradeira dos bancos no mundo inteiro, a queda de confiança dos consumidores e a entrada do mundo em recessão. A reação inicial do Brasil com redução do compulsório, a substituição das linhas de crédito para exportação, a ampliação do prazo de pagamentos de impostos, a redução de impostos, o maior “protagonismo”do Banco Nacional de Desenvolvimento, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal entre outras medidas. Para Murilo Aragão, além das medidas tomadas, a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva incentivando a população a consumir foi um ponto positivo. “O presidente mostrou que estava trabalhando para resolver a crise, isto passa confiança para a população e gera uma onda de otimismo”, observou.
Aragão afirmou que o Brasil tem “um mar de oportunidades” por ter uma classe média emergente, investimentos em infra-estrutura – como portuária e aeroportuária –, crédito potencialmente abundante, além de vocação para a economia “verde” e o futuro do Pré-Sal. O Congresso, na sua avaliação, entre outras medidas contra a crise, deve recuperar a Agenda Legislativa e monitorar mensalmente a situação da crise econômica e seus desdobramentos, além de interagir com os demais poderes, sociedade civil e formadores de opinião. Citou ainda a necessidade de redução da burocracia, a redução do custo indireto da mão de obra e a simplificação do Sistema Tributário.
Papel do Congresso
Na avaliação de Toninho do Diap, o Congresso tem uma imagem de ineficiência e ausência de grandes líderes. A percepção da população sobre a Câmara e o Senado recebem aprovação abaixo do Ministério Público, Polícia Federal e imprensa. Credibilidade ainda menor tem os partidos políticos, com avaliação inferior às Casas Legislativas.
Grande parte da avaliação negativa tem influência da mídia, observa Toninho. “Os veículos de informação tem se pautado no escândalo. Praticam o denuncismo, o que leva a população a relacionar a corrupção ao regime político”. Toninho ainda aponta que a imprensa, no seu pior papel, atua como um partido de oposição ao governo. “Defende a redução de impostos, é contra as cotas de negros e alunos oriundos de escola pública, também se posiciona contra a entrada da Venezuela no Mercosul e defende a entrada do Brasil na Alca”.
O Congresso precisa definir agenda própria, afirma Toninho. Para ele faltam líderes que carreguem os grandes temas. Ele citou como exemplo o excesso de Medidas Provisórias, que trancam a pauta do Plenário. “Não são as MPs que atrapalham o Congresso de andar, mas a falta de vontade política. Já houve ano em que o parlamento editou 80 MPs, eram instaladas comissões para analisar as medidas do executivo sem trancar a pauta. Ano passado foram 40 medidas votadas”.
Eleições de 2010
Antônio de Queiroz fez uma projeção positiva para os partidos de esquerda nas próximas eleições presidências. O cenário descrito por ele como ímpar, contempla a não candidatura à reeleição de Lula e a polarização PT versus PSDB. “A população não está contente com o PT, nem está com saudades do PSDB. Há uma possibilidade de 3ª via e o Bloco de Esquerda pode preencher esta lacuna”, argumentou citando nomes do PSB como o deputado Ciro Gomes (PSB/CE) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Toninho disse ainda que a saída do PDT do Bloco não foi positiva, pois os partidos PSB, PCdoB e PDT juntos representavam a 3° maior bancada do Congresso, elegeram o 2° maior número de prefeitos em 2008 e tinham o maior fundo partidário. “O objetivo é aglutinar forças para ficar do mesmo tamanho dos grandes partidos, com vantagem de não ter rejeição da população”. Queiroz criticou a reforma política enviada pelo executivo. “Sem as coligações os partidos menores não teriam representação em muitas federações, com o Bloco isso é possível”, finalizou.
Letícia Alcântara – Assessoria de imprensa da Liderança do PSB na Câmara