A semana passada começou com a decisão de Michel Temer de dar uma nova interpretação à obstrução da pauta de votação por meio de medidas provisórias. Passou pela morte do deputado Clodovil Hernandez, pelo agravamento da crise de gestão do Senado – imerso em corrupção, desmandos e corporativismo – por uma pálida visita de Lula a Barack Obama, e terminou com a perda de popularidade do presidente por causa da crise.
Podemos acrescentar ao caldeirão o agravamento do quadro de tensão comercial entre Brasil e Argentina, com promessas de mais protecionismo contra nossas exportações para o país vizinho. Argentina e Brasil vivem arengando por conta de nossas exportações. A situação pode piorar se o projeto de aumentar a produção de trigo no Brasil for para frente. Os fatos da semana passada mostram como, em apenas cinco dias, o acúmulo de fatos pode gerar um passivo político relevante, que pode ser o prenúncio de uma nova tendência.
Analisando friamente, Lula perde prestígio, sua base política está enfraquecida e a crise econômica internacional continua ardendo. é uma soma relevante de problemas e desafios. Mesmo assim, tanto sua popularidade quanto o seu carisma, assim como a superficialidade da mídia eletrônica no trato de temas relevantes, protegem o presidente do desastre. O mais importante, como sempre frisa o ministro José Múcio, é que Lula representa os pobres e trabalhadores do Brasil. Nunca antes neste pais aconteceu tal fenômeno. Vargas era um bom patrão, mas não era um trabalhador.
Assim, apesar de todos os seus problemas, Lula continua sendo o representante do povo no poder. Enquanto for assim, não há o que temer seriamente. Sua popularidade prosseguirá robusta. No entanto, a crise econômica e suas seqüelas são um desafio adicional para o projeto eleitoral do presidente. Dilma Rousseff vem subindo e já recolhe apoios expressivos na base governista. Mas tanto o PMDB quanto o PSB, principais sócios do PT na gestão do governo, têm reflexões sérias sobre a sucessão.
O PMDB vai se orientar pela possibilidade de sucesso. O PSB se debate entre apoiar Lula e lançar candidato próprio. Ciro Gomes inicia um périplo pelo Brasil para explicar a crise internacional. Para Lula, a melhor fórmula seria uma coligação Dilma-Eduardo Campos em 2010. Pelo simples fato de que Eduardo Campos é o governador com maior afinidade com o presidente e é a maior liderança governista no Nordeste.
A fórmula com o PSB só teria sentido se o PMDB não fosse apoiar José Serra. Como tal fato é improvável, a opção preferencial é uma coligação PT-PMDB. No entanto, uma mudança na taxa de popularidade do presidente pode gerar dúvidas e adiamentos em termos de apoio.
Há alguns fatores de curto e de médio prazo que favorecem o presidente e podem minimizar os efeitos negativos da queda da atividade econômica na sua popularidade.
O salário mínimo passou de R$ 415,00 para R$ 465,00. No início de março, aposentados e pensionistas do INSS já receberam seus benefícios com aumento. A classe média voltou às concessionárias para trocar de carro graças à redução do IPI. Na próxima semana, o presidente Lula anuncia o Plano Nacional de Habitação, que prevê a construção de um milhão de casas populares.
Mas a tendência no longo prazo é de algum desgaste. Sinais consistentes de melhora virão somente a partir do final de 2010. Ou seja, até lá, prevalecem incertezas e necessidades de medidas impopulares (corte de gastos). Além do mais, o acirramento de ânimos no Senado no relacionamento entre os dois principais partidos da coligação governista pode ameaçar o ambiente das negociações políticas no futuro.