Deu no Estadão de hoje:
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lamentou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha de deixar o governo do Brasil em 1º janeiro de 2011 e defendeu sua candidatura a um terceiro mandato. Declarou, no entanto, ter certeza de que, em 2010, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, será eleita sucessora de Lula.
"Eu lamento que Lula saia do governo. Por que ele tem de sair? Se um presidente governa bem e tem 80% (de aprovação popular), por que ele tem de sair?", perguntou Chávez, em entrevista a jornalistas brasileiros, enquanto esperava o desembarque de Lula em uma pista de pouso de El Tigre. Apesar de apoiar Chávez e achar que a Venezuela é uma "democracia plena", Lula já disse, mais de uma vez, que considera a "alternância de poder essencial para a democracia".
Ontem, o próprio Lula, num ato falho, ao assinar o acordo final para construir a refinaria Abreu e Lima – uma associação entre as estatais brasileira e venezuelana de petróleo, Petrobrás e PDVSA -, disse esperar que ele e Chávez inaugurem a obra num prazo de "cerca de dois anos ou um pouco mais". Nesse período, ele já estará fora do Planalto.
Chávez acrescentou que não entende por que a presidente do Chile, Michele Bachelet, também terá de deixar o cargo ao fim de seu mandato no próximo ano, se conta com índice de aprovação de 60%. "Só deixo a pergunta no ar." Ao ressaltar sua "certeza" de que Dilma será eleita para suceder a Lula, o presidente venezuelano disse que ela "tem peso, é uma grande mulher e tem a cabeça bem ordenada". E decretou: "Ela será a próxima presidente do Brasil. Podem escrever."
Confrontado com a hipótese de vitória de um candidato da oposição, Chávez apelou para o princípio da não-interferência em assuntos de outros países. "Não me meto em questões internas. Vocês são soberanos e podem fazer o que queiram. Eu não me meto."
Diante da notícia de que a Comissão de Relações Exteriores do Senado brasileiro aprovara a entrada da Venezuela no Mercosul, Chávez disse que em seu país há "plena democracia" e "plena liberdade de expressão". "Que ninguém acredite nesses pontos sobre o ditador Chávez e sobre a perseguição a jornalistas", afirmou. "Em Honduras, sim, há ditadura e fecharam canais. Aqui, não. Vocês podem dizer o que queiram."