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A entrevista de Lula

O ex-presidente Lula (PT) concedeu uma interessante entrevista ao jornal Correio Braziliense, publicada na edição deste domingo (29). Lula falou sobre diversos temas, em especial a disputa presidencial de 2014. Também fez comentários sobre as reformas tributárias e políticas e o financiamento da saúde.
 
Em sua avaliação, a reforma tributária não deve ser elaborada por meio de pacote, e sim por tema. A sugestão é interessante, principalmente se levarmos em conta que, devido aos interesses antagônicos dos estados, é pouco provável que a reforma tributária via pacote obtenha avanços.
 
O ex-presidente advogou a tese, já defendida pelo PT, da necessidade de uma Constituinte exclusiva para a reforma política. Foi exatamente o que a presidente Dilma Rousseff propôs no auge dos protestos em junho e julho, mas sofreu forte resistência no Parlamento, em especial no PMDB.
 
Outro tópico importante mencionado por Lula diz respeito ao financiamento da saúde. Como esse tema é a principal demanda dos eleitores e ganhou destaque nos últimos meses com a polêmica em torno do programa Mais Médicos, do governo federal, o provável é que essa discussão entre na agenda especialmente durante a campanha para as eleições de 2014.
 
O ex-presidente, ao dizer “vamos perguntar aos tucanos por que eles derrotaram a CPMF, tirando R$ 40 bilhões da saúde por ano em meu governo, achando que iam me prejudicar”, sinaliza que o PT pode adotar a estratégia de atribuir responsabilidades ao PSDB pela falta de recursos para o setor. Ainda sobre a saúde, vale lembrar que a oposição acabou perdendo o debate político para o governo na questão do Mais Médicos, sobretudo pela boa aceitação do projeto no Norte e no Nordeste do país.
 
Sobre os adversários da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014, Lula demonstrou preocupação com o potencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Classificou como prejuízo a perda do apoio do PSB, que saiu do governo Dilma, e a provável divisão da base lulista em duas candidaturas na disputa eleitoral do próximo ano.
 
Porém, Lula não vê a candidatura de Eduardo Campos como um fato consumado. “[…] eu não dou de barato que o Eduardo é candidato”, afirmou. No entanto, como o governador pernambucano deve sair mesmo candidato, o ex-presidente projeta uma boa convivência com ele. “Se ele vai ser candidato, nós temos de ter uma regra de comportamento. Se a eleição não terminar no primeiro turno, poderemos ter aliança no segundo turno”, acrescentou.
 
Na entrevista de Lula chamou a atenção que nem mesmo a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) é dada como certa por ele. “Sabe-se lá o que o Serra vai tramar contra o Aécio?”, perguntou, referindo-se a uma possível armadilha que poderia ser montada pelo ex-governador José Serra (PSDB-SP) contra seu desafeto no ninho tucano. Entre Serra e Aécio, Lula considera o senador mineiro um adversário mais difícil. Mas reconhece que o desafio de Aécio Neves é tornar-se conhecido nacionalmente.
 
Ainda em relação à disputa de 2014, Lula deixou claro terá uma ativa participação na campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. “[…] O que eu vou fazer na campanha depende dela. Eu não quero estar na coordenação, eu quero ser a metamorfose ambulante da Dilma. Estou disposto. Se ela não puder ir para o comício num determinado dia, eu vou no lugar dela. Se ela for para o Sul, eu vou para o Norte. Se ela for para o Nordeste, eu vou para o Sudeste. Isso quem vai determinar é ela.”
 
Ao que tudo indica, daqui para a frente, Lula tende a estar mais ativamente nos palanques. Não por acaso afirmou em conversa com sindicalistas, na semana passada, que “a vitória da Dilma é vitória dele. Estou no jogo”. Lula sabe, mais do que ninguém, que estará em jogo em 2014, além da reeleição de Dilma, o próprio legado do lulismo.