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O Brasil que ruge

Na semana passada, o Brasil deu três mostras de que vive plenamente uma nova postura nas relações internacionais. E, também, um novo patamar. Na vista de Hilary Clinton, ministra das relações exteriores de Obama, o Brasil reafirmou sua posição com relação ao Irã. De uma forma clara e direta, Lula disse que apóia o uso da energia nuclear para fins pacíficos no Irã e que, caso ficasse provado que não é assim, mudaria de posição.

Outro ponto interessante é que, mesmo com toda a onda em torno do diálogo com o Irã, quem teve a primazia dos contatos foi Israel, rival histórico do primeiro. O presidente do país, Shimon Perez, esteve no Brasil em novembro com o objetivo de fortalecer as relações bilaterais em um momento em que o Irã aumenta sua influência na América Latina. Lula esteve por lá agora.
 
Nos últimos anos, o Brasil tem manifestado a intenção de exercer um papel mais ativo no processo de paz no Oriente Médio. Segundo o embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher, o país tem um papel muito importante em apoiar e ajudar as forças moderadas dentro do mundo árabe, dentro do campo palestino contra os extremistas e contra os que não creem no processo de paz e não reconhecem o direito de Israel de existir.
 
Duas semanas após a visita do líder israelense, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, também veio ao Brasil a fim de ampliar suas parcerias para aliviar os efeitos das sanções econômicas impostas contra o Irã e de buscar apoio ao seu programa nuclear. A visita do mandatário foi cercada de polêmica. Entidades ligadas à comunidade judaica, grupos religiosos, de defesa dos direitos humanos, de homossexuais e outras organizações realizaram protestos contra a visita do líder iraniano.

às vésperas de assumir uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU e com a pretensão de conquistar um assento permanente, o Brasil busca com as visitas dos líderes do Oriente Médio desempenhar um papel mais relevante nas grandes discussões internacionais. O Brasil afirma que a política externa do país tem uma tradição de não intervir em assuntos internos de outros Estados, que isolar o Irã seria menos produtivo e que o melhor caminho é o diálogo.
 
Existem outros sintomas dos rugidos diplomáticos do Brasil. No âmbito do comércio, o Brasil acaba de anunciar uma lista de 102 produtos norte-americanos que serão sobretaxados por conta dos prejuízos causados à economia brasileira pelo subsídio que o governo dos Estados Unidos concedem a seus produtores de algodão. A definição da sobretaxa dos calçados chineses já foi tomada.
 
Outra decisão do Brasil é avançar na questão da importação paralela de medicamentos. Afinal, não é novidade. Lula quebrou a patente de medicamentos do tratamento da AIDS. Agora, além de querer importar medicamentos exclusivos, o Brasil quer sobretaxar filmes e seriados de televisão. Tudo por conta da disputa do algodão na OMC.

Sem entrar no mérito das questões – até mesmo pelo fato de que cada item mencionado tem a sua própria dinâmica, o Brasil revela um comportamento diferente de seu padrão histórico. E segue uma nova cartilha que guarda relação com o passado sindicalista de Lula. Criar tensões para atrair negociações.  Será que o Irã está sendo usado para um propósito maior no âmbito das relações exteriores? Como na piada, uns dizem que sim, outros dizem que não.

Porém, há que se considerar que a política externa de Lula, ainda que tenha inegável sucesso comercial com a expansão de novas parcerias, padece de inconsistências e contradições que, no mínimo, abrem espaços para críticas contundentes. Em sendo assim, não seria prudente baixar o perfil das ações diplomáticas durante o processo eleitoral? Por outro lado, a romaria de ministros e chefes de Estado – “nunca antes neste país” – é a prova do novo status do Brasil. O certo é considerar que o Brasil, no âmbito das nações, assumiu uma nova postura e uma nova dimensão. Resta saber se estamos preparados para administrar o novo status.