Desde a eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1994, não ocorrem surpresas nas disputas presidenciais. O favorito ganha sem maiores problemas. FHC não era o favorito, mas todos sabiam que o sucesso do Plano Real o tornaria imbatível. Foi o que aconteceu. Em 1998, FHC ainda vivia das glórias do Plano Real e Lula (PT) ainda não tinha uma narrativa que convencesse os indecisos.
Em 2002, FHC foi esquecido da campanha de José Serra (PSDB) e o favoritismo de Lula se confirmou. Tanto pela fadiga de material do governo tucano quanto pelos movimentos destinados a capturar os indecisos. Em 2005, Lula saiu do inferno do mensalão do PT para ganhar uma eleição em que a falta de opção e o êxito das políticas sociais faziam diferença. Em 2010, o favoritismo de Dilma (PT) era evidente mesmo quando ela ainda patinava nas pesquisas. Lula era capaz de eleger qualquer um.
Considerando o retrospecto, as eleições deste ano para o Palácio do Planto apresentam um favorito óbvio: em condições normais, Dilma Rousseff será reeleita a partir de algumas vantagens claras. Além de ter uma boa popularidade que deve continuar a crescer, Dilma conta com mais tempo de televisão, mais coalizões e a máquina governamental a seu favor.
Lula permanece carismático e o mais poderoso cabo eleitoral. A oposição ainda não construiu a narrativa da mudança nem a maioria do eleitorado parece cansada de Dilma. Assim, tudo caminha a favor de sua reeleição.
Tal fato seria líquido e certo se, como sempre, não ocorressem surpresas. Todas as eleições têm surpresas. O que importa saber é se as surpresas poderão mudar o curso dos acontecimentos. Nesse sentido, as eleições presidenciais de 2014 têm características bem peculiares. De um lado, o favoritismo inconteste de Dilma. De outro, os efeitos das manifestações de rua de 2013, que podem se repetir. Dois outros aspectos devem ser considerados: o estado da economia e o funcionamento do Brasil na Copa do Mundo.
Aparentemente, os fatores de risco parecem identificados. O governo sabe que o fim do “tapering” terá efeitos na política cambial. Sabe também que provavelmente seremos rebaixados pelas agências de risco, mas nada que ameace nosso investment grade. Sabe também das manifestações e prepara uma força policial de 10 mil soldados para atuar especificamente na questão.
E sabe, ainda, que nossos aeroportos e nossa estrutura viária urbana serão testados ao limite durante a Copa. Saber os fatores de risco é uma vantagem para Dilma. Resta provar que ela e o governo terão competência para gerenciá-los.
Finalmente, considerando que as coisas que podem dar errado já estão identificadas, sobram os fatores imponderáveis. As surpresas absolutamente inesperadas, que, nas últimas eleições, não foram capazes de mudar o curso dos acontecimentos.