Ao contrário do que se viu durante a campanha, a imprensa, em especial a escrita, tem adotado uma postura pró-Dilma. O jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, que havia declarado apoio à candidatura de José Serra, publicou artigo com o título “O bom início do governo Dilma” (18/01).
A lua de mel, além de ser natural em início de mandato, é resultado de sinalizações positivas da nova gestão. Vejamos algumas delas.
A presidente Dilma agiu muito rápido no episódio das enchentes na Região Serrana do Rio de Janeiro. Visitou o local, liberou recursos e anunciou medidas para tentar evitar novos problemas no futuro. Assim, amenizou críticas em relação a suposta “falta de ação do governo federal”. é importante lembrar que, em 2005, após a passagem do furacão Katrina por New Orleans (EUA), o ex-presidente George W.Bush, demorou a agir e viu sua popularidade despencar.
Dilma tem demonstrado objetividade com sua equipe e, na primeira reunião ministerial, exigiu que seus ministros evitassem disputas públicas. Isso porque Carlos Lupi, ministro do Trabalho, defendia que o salário mínimo fosse reajustado acima dos R$ 545 propostos pelo governo.
A presidente também tem mandado mensagens de austeridade no campo fiscal. Os cortes no orçamento podem chegar a R$ 40 bilhões. Além disso, pediu que seus ministros apresentem em fevereiro sugestões para redução de gastos em suas respectivas pastas.
O fato de o Banco Central ter aumentado os juros logo na primeira reunião do ano mostra que a autonomia da instituição está garantida. Embora seu presidente, Alexandre Tombini, já tivesse afirmado esse compromisso de Dilma ao ser nomeado para o cargo, restam sempre algumas dúvidas até que haja oportunidade de comprovação.
O atual governo também tem conduzido bem questões políticas importantes, como a escolha do novo presidente da Câmara e o relacionamento com aliados no Congresso Nacional.
Outros temas mais complexos foram adiados. Justamente para evitar que sejam criadas tensões desnecessárias logo no início do governo.
Uma das maiores críticas da imprensa à gestão do presidente Lula era a iniciativa de seu então ministro Franklin Martins de propor uma regulamentação para a mídia. Já Paulo Bernardo (Comunicações) disse que não enviará ao Congresso proposta sobre controle social da mídia e que o assunto será submetido a consulta pública.
A fim de evitar conflito com o setor sindical, foi acertada uma reunião nesta semana entre governo e trabalhadores para se discutir o reajuste do salário mínimo, além de outros assuntos. Nos últimos dias, o deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, fez várias críticas à posição do governo em relação ao tema, alegando que, na época do ex-presidente Lula, o Planalto estava sempre aberto ao diálogo com os movimentos sociais. Com Dilma Rousseff, “o governo estava arbitrando o novo salário mínimo”, acusou o líder sindical.
Dilma também adiou a decisão sobre a compra dos aviões de caça para 2012. O assunto é de grande interesse da Aeronáutica, que claramente tem posicionamento diferente do Ministério da Defesa. E ainda sinaliza trégua na relação com a Vale, evitando especulações sobre o afastamento de Roger Agnelli da presidência da empresa.
A falta de articulação na oposição também ajuda Dilma. O PSDB mostra que a legenda permanece dividida entre José Serra e Aécio Neves. E no DEM, os grupos de Rodrigo Maia e Jorge Bornhausen “ brigam” internamente pelo comando da sigla.
Até aqui, de fato, o balanço é positivo. Aos poucos, Dilma vai imprimindo a própria marca à sua administração e saindo da sombra de Lula.