O final de 2010 nos trouxe a impressão de que 2011 seria mais um ano de grande progresso econômico e social para o Brasil. As perspectivas eram muito positivas e tudo parecia caminhar bem. Nem mesmo as dúvidas com relação à inflação e à política cambial pareciam atrapalhar o horizonte otimista.
No entanto, algumas nuvens negras começaram a aparecer. São elas: o gasto público, o déficit nas contas externas e a inflação. Reunidos, esses três fatores formam uma armadilha perigosa que pode frustrar as nossas expectativas.
Antes de adentrar na análise, vale dizer as expectativas positivas estavam fundadas no desempenho do mercado interno a partir de uma combinação promissora de emprego, renda e consumo. Tais fundamentos continuam válidos e não parecem ameaçados pelas nuvens carregadas.
Outra consideração fundamental está na possibilidade de as autoridades econômicas pilotarem ou não os desafios imediatos do país. Seriam elas comandantes ou passageiros?
Em sendo comandantes, suas decisões poderiam regular o andamento da economia, dissipando os temores de que o tempo feche e ela entre em crise. Em sendo passageiros, seriam reféns de decisões não lógicas, eminentemente políticas e potencialmente demagógicas e deletérias. Não é o caso.
Em que pese o fato de o comportamento da equipe econômica não ser ortodoxo a ponto de atender integralmente às demandas do mercado e dos economistas mais conservadores, existe a plena consciência dos riscos e da importância da credibilidade para a manutenção do ciclo virtuoso de nossa economia.
O ponto central é conciliar crescimento da economia sem ameaçar a credibilidade fiscal. Como conseguir isso sem cair nos extremos: ortodoxia ou farra dos gastos públicos? Uma ação equilibrada nos gastos públicos parece ser a resposta. Mas não é a única.
Aparentemente, o governo caminha de forma prudente. O Banco Central aumentou os juros na primeira reunião do ano e adotou outras medidas de restrição ao crédito. Tenta conservar uma política cambial que melhore a nossa competitividade sem ser inflacionária. Semana passada, o governo anunciou um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União para 2011. Esses cortes serão detalhados em decreto que deverá ser publicado no Diário Oficial da União nesta semana. Outros contingenciamentos poderão ser anunciados ao longo do ano dependendo da arrecadação federal. Por outro lado, não se pode encapsular a economia de um país desigual e socialmente injusto de forma a impedir que ocorra um processo de crescimento e de desenvolvimento social robusto e sustentável.
No entanto, falta uma ação mais efetiva no tocante à competitividade. O nosso comércio exterior merece atuação mais decidida. Tanto para melhorar a competitividades de nossos exportações quanto para coibir importações que ameaçam de forma abusiva o nosso setor produtivo.
Em tempo: acredito que o tempo não vai fechar. Há competência e responsabilidade suficiente no governo central para que a condução da política econômica seja a mais adequada e produza os efeitos necessários, inclusive sociais.
Porém, nossas expectativas poderiam ser ainda melhores e nos temores menos agudos frente aos desafios do momento. Falta-nos ousadia e o governo, passado a situação de crise, volta a decidir em ritmo de samba canção.
O receituário do momento está capenga. Não há um projeto dedicado a atacar as raízes de nossa baixa competitividade: infraestrutura, tributos e burocracia. Sem um amplo ataque às nossas fragilidades estruturais, limitaremos nossas potencialidades.