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Partidos e políticos: a sociedade no espelho

 
Um patético editorial do vetusto Estadão me chamou a atenção. O título transparecia indignação: “Até quando?”. Já na primeira frase, o editorialista chutava na canela: até quando os políticos vão abusar da paciência do povo? Mas, no final do texto, não encontrei a resposta.
Entre a pergunta feita e a resposta que não apareceu, o editorial desfila uma série de lamentações sobre o quadro político nacional e, em especial, sobre as peripécias de Gilberto Kassab e Gabriel Chalita, que querem mudar de partido por meio de um subterfúgio: criar uma legenda nova e depois se fundir a outra já existente. Tudo para não perderem seus mandatos por conta da regra de fidelidade partidária.
O editorial e sua indignação nos motivaram várias considerações. Uma delas diz respeito a uma lição velha mas não aprendida por muitos: a indignação não explica a política. Outra consideração mais óbvia: os políticos são maiores que os partidos. Os partidos são instrumentos de poder a serviço dos políticos, e não da sociedade. Daí o quase total desprezo dos políticos aos partidos. 
Assim, já que é proibido o troca-troca partidário sob pena de perda do mandato, apela-se ao “jeitinho” brasileiro para contornar o “problema” criado pela Justiça.
Em sendo o Brasil um país onde as ideias nada significam, e muito menos os princípios, a solução é mais do que aceita e acaba representando uma prova da engenhosidade de nosso povo. Na falta de uma ação do Congresso para estabilizar a questão por meio de uma legislação clara, caberia à Justiça, mais uma vez, agir.
As iniciativas de Kassab e Chalita são tão descaradas – já que divulgadas aos quatro cantos do país – que deveriam ser abortadas pela Justiça. Não há questão ideológica posta na mesa, trata-se apenas do interesse de uns e outros de disputarem eleições em legendas potencialmente mais favorecidas.
O episódio merece indignação. Porém, indignação por si só não explica nada. Os partidos em questão deveriam chamar às falas os envolvidos e analisar se a conduta não é passível de expulsão e perda de mandato.
Como vivemos um período de amadurecimento de nossas instituições, e por isso ainda somos um simulacro de democracia, episódios como esse são café pequeno.
Respondendo à pergunta formulada pelo editorial sobre a paciência do povo brasileiro, respondo: ela é grande por ser ignorante, omissa e desinteressada. Política é algo que chateia e aborrece. Só merece maiores atenções quando as coisas não vão bem.
Apenas escândalos “escandalosos” nos tiram da letargia ou das preocupações do dia a dia. Reflexões mornas e subterfúgios, como os da questão Kassab-Chalita, não causam indignação, apesar do apelo patético do editorial. Muito menos reações organizadas da sociedade.
Faltou explicar que os políticos no Brasil são maiores que as ideias, os programas e os partidos. Assim, pouco importa mudar de legenda, desde que a viabilidade eleitoral fique assegurada. Somente isso explica o fato de Joaquim Roriz, ele mesmo, ter tido uma passagem pelo PT.