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Obama no Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desembarca no Brasil no próximo sábado (19) para uma visita de dois dias em que passará por Brasília e Rio de Janeiro. Tratada pelos norte-americanos como oportunidade para “relançar” as relações bilaterais, a visita é vista em Brasília como um momento de intensificação dos laços entre os dois países. Para além da questão semântica, o resultado mais significativo dessa primeira visita de Obama ao país será simbólico.

Depois do distanciamento ao final do governo Lula (impulsionado pela controversa posição brasileira na tentativa de intermediação da questão nuclear iraniana), a vinda de Obama ao Brasil indica uma clara reversão de expectativas em Washington e a busca por uma nova fase de cooperação e aproximação bilateral. Para a presidente Dilma Rousseff, é também a oportunidade de angariar apoio internacional no momento em que realiza ajustes na condução da política externa brasileira. Não desfrutando do mesmo carisma de seu antecessor, a presidenta poderá contar, a partir da visita de Obama, com um apoio de peso na correção de rumos que tem desenhado em áreas tão amplas quanto direitos humanos e proliferação nuclear.

Embora formalmente a visita deva limitar-se a protocolares declarações e à assinatura de acordos variados (que tratarão desde temas previdenciários até a cooperação conjunta em terceiros países), economia, energia e segurança deverão dar substância à agenda que o presidente Obama cumprirá no Brasil.

No campo econômico, o Brasil transformou-se, em 2010, no quinto maior superávit comercial dos Estados Unidos. Tal fato impõe aos norte-americanos nutrir a relação bilateral, em particular no momento em que, após perderem o posto de principal parceiro comercial do Brasil para a China nos últimos anos, veem a Argentina aproximar-se na conta de comércio exterior do Brasil, ameaçando relegar aos EUA um indesejado terceiro lugar. Ao mesmo tempo, desperta no Brasil a necessidade de reequilibrar o comércio bilateral, em especial por meio de uma mudança no perfil daquilo que é exportado do Brasil para os Estados Unidos (essencialmente, produtos com baixo valor agregado). O tema deverá ser tratado tanto de forma reservada quanto no encontro do presidente norte-americano com empresários.

No campo energético, pré-sal e biocombustíveis deverão dominar a agenda bilateral. Motivado pela necessidade de reduzir a dependência estadunidense do petróleo do Oriente Médio e pela vontade de diversificar a matriz energética dos EUA, Obama deverá tratar da cooperação na exploração do pré-sal e ouvir do Brasil novos apelos em favor da abertura do mercado norte-americano de biocombustiveis. Se a cooperação no pré-sal pode apresentar uma oportunidade de evolução relativamente rápida (motivada, inclusive, pela evolução das conversas do Brasil com a China sobre o tema), a abertura do mercado dos EUA ao etanol brasileiro encontra fortes resistências no Congresso norte-americano, o que deve dificultar avanços na questão.

Encerrando sua viagem pelo Rio de Janeiro (20), Obama deverá visitar uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O gesto deverá ser acompanhado pela oferta norte-americana de cooperar na preparação da segurança tanto da Copa do Mundo (em 2014), quanto das Olimpíadas do Rio (em 2016). é também um bom exemplo de convergência de interesses que poderá ser explorado no sentido de dar substância à aproximação dos dois gigantes hemisféricos. Em um momento marcado por simbolismo, pode materializar a nova fase das relações bilaterais que Obama pretende inaugurar com sua visita ao Brasil.