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Portugal: o preço das escolhas erradas

 Em um rasgo de sinceridade e de profundo realismo, o governo de Portugal admite que só tem dinheiro para pagar dívidas até o fim de maio. O país precisa de 5 bilhões de euros para quitar uma dívida que vence em junho. Entre abril e dezembro, Portugal precisa de financiamento de € 21 bilhões. A China, com US$ 3 trilhões de reservas internacionais, comprou apenas US$ 300 milhões de dívida pública portuguesa. O primeiro-ministro, José Sócrates, propôs uma reunião emergencial com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para negociar um empréstimo.O jornal português Público destaca que o país “precisa de medidas ainda mais duras” para reduzir o déficit nas contas públicas. Caso contrário, “a economia portuguesa será a pior da União Europeia em 2016”. Triste prognóstico para um país com tantas potencialidades. Em 2010, o déficit público do país foi 8,6%, ultrapassando a meta de 7,3%. A dívida pública portuguesa está hoje em 92,4% do PIB. Situação melhor apenas que a da Bélgica, Irlanda, Itália e Grécia.A situação de Portugal é inacreditável, a ponto do jornal inglês "Financial Times" ter saído recentemente com uma proposta inusitada: o Brasil deveria anexar Portugal, que se tornaria uma província brasileira, abandonando a União Europeia. A proposta obviamente foi uma piada e fazia uma comparação entre a situação vivida pela economia brasileira e portuguesa. Ela foi feita durante a visita de Lula e da presidente Dilma ao país no final de março.Com forte vocação turística e cultural, sem graves problemas sociais e tendo o apoio da Comunidade Europeia, Portugal poderia ter construído as bases de uma economia sólida e independente.Poderia, ainda, ter aprofundado os laços econômicos com o Brasil, de forma a estar se beneficiando do ciclo virtuoso que se instalou no país. Tampouco buscou se transformar em potência tecnológica, com aplicação de recursos maciços em pesquisa e desenvolvimento.O medíocre desempenho econômico português não é fato recente. Desde 2001 Portugal tem crescido pouco mais de 1% ao ano. Crescimento muito inferior, no mesmo período, ao dos países que se equiparam com Portugal na União Europeia.Outros indicadores são igualmente patéticos. Portugal é pouco competitivo, pois é travado e controlado pela burocracia e pelo corporativismo do funcionalismo, pelas regras trabalhistas, pela complexidade do sistema tributário e pela falta de visão estratégica.Muitos dos problemas de Portugal se parecem com os do Brasil. Só que há uma grande diferença: aqui há um gigantesco potencial no mercado interno cuja lucratividade paga toda e qualquer ineficiência de nosso sistema econômico.O mais grave é que a crise portuguesa resulta de escolhas políticas erradas, e não de problemas vindos de fora. Portugal é vítima também da incapacidade de planejar um futuro melhor a partir de suas potencialidades.Ao invés de olhar para as políticas econômicas e fiscais de países do Báltico, que estimulam o investimento privado, Portugal se mantém amarrado pela burocracia e pela imensa vontade de intervir na economia sem os devidos instrumentos e sem capacidade financeira para tal.Mais do que emprestar dinheiro para Portugal, credores e países amigos deveriam encorajar o país a editar políticas desburocratizantes que promovam o investimento e a livre-iniciativa.No mundo de hoje, Portugal possui, pelo menos, quatro aspectos extraordinários que podem resultar em grandes oportunidades: o potencial turístico, a produção de cultura, a educação do povo e a ausência de graves problemas sociais. Ou seja, tem tudo para ter um futuro brilhante à altura das melhores expectativas e tradições do país.