Um artigo de FHC sobre a oposição e, em seguida, a réplica de Lula aqueceram o debate em torno do papel da classe média na política. FHC prega que o PSDB deve buscar apoio na nova classe média. Lula, pelo seu lado aponta na direção da classe media alta como alvo preferencial do PT.
A questão fundamental é: quem controlará os 20 milhões de votos desse segmento? Os desdobramentos do debate são muito curiosos. Dentro do PT, há quem defenda que Lula deve se ocupar do povão, e Dilma, buscar espaços junto à classe média.
No PSDB, FHC pontifica dizendo que o partido deve investir na nova classe média. “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, falarão sozinhos”, afirmou.
A pesquisa Datafolha, da semana passada, mostra que os eleitores da chamada nova classe média (com renda mensal entre três e dez salários mínimos) são os que mais dizem preferir o PT. Já o PSDB tem maior apoio entre os brasileiros com renda familiar acima de dez salários mínimos.
Assim, para situar claramente o debate, distinguimos, pelo menos, três estratos em discussão: o “povão”, que deve ser esquecido pelo PSDB; a nova classe média (classe C), que prefere o PT e deve ser conquistada pelo PSDB; e a alta classe média, que prefere o PSDB e deve ser conquistada pelo PT.
Tal debate é fundado em premissas erradas e revela equívocos. O maior deles é não reconhecer que a aderência do eleitorado a um determinado projeto político é mínima. Poucos estão interessados em programas e, muito menos, ideologias. O interesse nos debates políticos é inconsistente e o próprio debate rareefeito.
Por exemplo, Lula aponta que o PT deve buscar eleitores no “malufismo” para crescer, como se tal movimento tivesse organicidade consistente para justificar uma cooptação. O “malufismo” é um misto de vários fatores onde a motivação ideológica é praticamente é muito pequena.
Já FHC propõe ao PSDB esquecer o “povão” e buscar o público das redes sociais, formando aí uma nova opinião. Erro claro, já que a conquista desse público não se dará por cooptação programática ou ideológica, nem depende de uma atitude ou estratégia de comunicação.
O fato é que, a essa altura de nossa história, as campanhas eleitorais dependem mais de resultados do que de mensagens produzidas.
As preferências se definirão basicamente pela entrega de resultados, e muito menos pelas embalagens das mensagens ou pela divisão de públicos entre os políticos. Daí a influência decrescente da mídia no jogo político quando o governo é popular.
Independente de escolhas táticas, o caminho da formação de uma mensagem política eficiente para o PT e o PSDB reside algo cristalino: o desempenho. Quem apresentar o melhor desempenho vai controlar a maior parte do eleitorado. Esta sendo assim desde 1994.
O PSDB de FHC foi popular por conta dos resultados extraordinários do Plano Real. O PT de Lula, pelos resultados evidentes na economia e na redução da pobreza. Caso ambos tivessem fracassado, teriam sido apeados do poder sem cerimônia.
Considerando que o histórico do governo é o de prometer muito e entregar pouco e não funcionar bem a combinação de bom desempenho, baixa educação e fluxo inadequado de informação favorece a quem controla a maquina governamental e apresenta resultados populares.
No atual estágio de nossa sociedade, a maioria do povo brasileiro avalia a política de forma pragmática: o governo só vale pelos resultados e benefícios que oferece. O resto é conversa para boi dormir.