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Competitividade e política cambial

  Fevereiro de 2008 terminou com a moeda norte-americana valendo R$ 1,70, a menor cotação desde maio de 1999. As estimativas do mercado indicavam então que o dólar deveria se estabilizar em um valor entre R$ 1,60 e R$ 1,70. 

Na época, eu escrevia que a conjuntura econômica tornava o país particularmente atrativo para investimentos estrangeiros diretos e especulativos.

 

Tínhamos uma rara combinação de lucratividade excessiva para os padrões de primeiro mundo e desempenhos financeiro, político, regulatório e jurídico inusitados para economias de países emergentes. E, acima de tudo, um mercado interno voraz para o consumo.

 

De lá para cá, o crescimento foi robusto, a ponto de fazer da ameaça de volta da inflação o mais sério risco que nos afeta. Com um ambiente positivo, o dólar continua a derreter, apesar das intervenções do BC desde 2007. Nossas reservas estão próximas de US$ 32 0 bilhões, número impensável para nós, que vivemos décadas de penúria.

 

A essa altura, apesar do empenho do Banco Central em conter a valorização do real, o cenário que se desenha é o de valorização de nossa moeda. Por conta dos desempenhos financeiro, político, regulatório e jurídico, já mencionados, e do mercado interno. E ainda pelo fato de o Brasil ter em carteira investimentos significativos para os próximos anos. O Brasil deve receber US$ 2 trilhões em investimentos nos próximos quatro anos, segundo o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ele disse que, com isso, o nível de investimento no país chegará a 23% do PIB. Hoje, não chega a 20%.

 

Isso posto, o que fazer para evitar os efeitos colaterais do acúmulo de reservas, em especial, a desindustrialização e a dramática perda de competitividade de nossas exportações?

 

Ninguém tem uma resposta precisa, mas alguns aspectos devem ser considerados. Acredito que as reservas elevadas são benéficas para o Brasil. Mesmo que tenham, aparentemente, custo elevado. Segundo cálculos de economistas, o chamado “custo de carregamento” das reservas teria atingido um valor ao redor de US$ 24 bilhões no ano passado.

 

Os críticos do custo das reservas não levam em conta devidamente o fato inconteste de que tê-las representa uma avaliação de risco mais baixo e, em consequência, custos menores de captação de recursos no exterior e maior atratividade para o investimento direto e especulativo no país. São vantagens comparativas essenciais no mundo de hoje e que reforçam as boas expectativas em torno do Brasil.

 

Posto que ter reservas elevadas é bom para a segurança financeira do país, nosso desafio é saber lidar adequadamente com os efeitos colaterais dessa situação e com a real possibilidade de que elas aumentem ainda mais.

 

Vamos por partes. Para recuperar a competitividade de nossas exportações devemos reduzir o chamado – e velho conhecido – custo Brasil, que está presente na carga tributária, na infraestrutura e nos processos burocráticos. Uma ação emergencial sobre tais aspectos poderia resultar em ganhos consideráveis de competitividade.

 

Outro esforço emergencial é agregar valor às nossas exportações. Sobre isso, foi anunciado que a próxima fase da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do governo federal dará ênfase a setores industriais com forte valor agregado. Mas mais que isso, a marca Brasil deve ser mais bem explorada pela evidência de que existe uma excepcional boa vontade externa em relação a nosso país.

 

Com menor custo de exportação e maior valorização da marca Brasil, poderemos exportar mais e melhor. E a lucratividade dos exportadores não decorrerá apenas da existência de uma moeda artificialmente fraca. O governo e a sociedade, por meio de suas entidades, deveriam dirigir um olhar especial para esses aspectos.