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Gerenciando a faxina

Apesar do jargão ter sido uma marca da era Lula, deve ser aplicado na gestão de Dilma Rousseff. Afinal, nunca antes na história deste país houve uma faxina tão ampla em um órgão público em decorrência de escândalos de corrupção como o que está havendo no Ministério dos Transportes. No Brasil de sempre, alguns eram sacrificados e outros sobravam. Os esquemas se recompunham e a vida continuava. No entanto, agora, a partir de denúncias acerca de favorecimento e corrupção, um ministro de Estado caiu e várias autoridades de segundo e terceiro escalões foram afastadas. No total, 17 pessoas.

Na última sexta-feira, durante entrevista a cinco jornalistas no Palácio do Planalto, Dilma afirmou que a “faxina” vai continuar, independentemente de partido. Declarou, categoricamente, que “sairão todos os dirigentes do Dnit e da Valec”. Trata-se de medida extremamente salutar. Há muito o Ministério dos Transportes patinava entre a incompetência e a lentidão na solução de problemas graves do país.

Vamos analisar as consequências da decisão. Pelo aspecto administrativo, ela funciona como um alerta para todos os demais ministros: tratem de ser corretos e competentes. Mesmo enfrentando problemas políticos, Dilma não hesitou em promover uma limpa no ministério. O efeito demonstração já está sendo sentido na Esplanada.

Em termos políticos, é preciso ver se a medida abala ou não as relações com os aliados. Teoricamente, os insatisfeitos podem retaliar apoiando investigações ou votando contra projetos de interesse do Planalto. O líder do PR, Lincoln Portela, teria dito que o governo estava brincando com fogo. Após a declaração ter sido divulgada, Portela negou com veemência que tenha ameaçado ou feito tal afirmação.

O fato é que todos sabem no Congresso Nacional que a insatisfação dos aliados pode desembocar em retaliações. Foi assim na votação do Código Florestal, quando parte da base, liderada pelo PMDB, votou contra a orientação da liderança do governo. Pelos cantos da Câmara, alguns comentaram que poderiam ajudar a oposição a convocar ministros para debater temas constrangedores. Comenta-se ainda que a faxina da presidente pode atingir outros partidos e outros ministérios. Tal fato gera uma situação de embaraço e temor. Assim, é mais do que provável que, na reabertura dos trabalhos pós-recesso, ouçamos o ranger de dentes e as reclamações surdas.

Porém, devemos considerar dois outros aspectos. O primeiro deles é a possibilidade de que a limpeza continue e atinja outras áreas do governo que tenham relação com outros partidos da base aliada. Outras duas pastas na mira de Dilma são a do Trabalho e a das Cidades, comandadas por PDT e PP, respectivamente. Reportagem da última edição da Revista época revelou a necessidade de interferência na Agência Nacional do Petróleo (ANP), comandada pelo PCdoB.

O segundo aspecto é a popularidade da atual gestão. De um lado, a extensão da faxina pode representar novas crises. Por outro, a boa aceitação de Dilma por parte da opinião pública serve para blindá-la de maiores problemas. Retaliações, no limite, podem ser muito pior para quem as pratica do que para quem as sofre.

Como novas faxinas continuam sendo possíveis e bem-vindas, os riscos de atrito vão continuar elevados e irão testar, ainda mais, a capacidade de diálogo com a base política. Porém, tanto pela popularidade do governo quanto pelo poder de articular verbas e cargos, o Planalto, apesar dos riscos inerentes ao confronto com os aliados, continua com condições de neutralizar as insatisfações. Em especial, se continuar a mostrar disposição para o diálogo.