O governo federal vive hoje uma transição entre o esgotamento do conjunto de políticas públicas que levaram o equivalente a 32 milhões de pessoas à classe média nos últimos nove anos e o desenvolvimento de novos instrumentos de apoio e aprimoramento das pessoas que ascenderam. Esta é a avaliação de Ricardo Paes de Barros, subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência e um dos maiores especialistas em políticas sociais do país. Não à toa, programas coqueluches de transferência direta de renda, como o Bolsa Família, perdem força no noticiário na mesma proporção em que mais e mais famílias deixam a situação de pobreza extrema. "A questão deixou de ser simplesmente a salvação dos pobres, mas também a manutenção, ou crescente evolução financeira, daqueles que hoje estão na nova classe média", diz o pesquisador.Segundo Paes de Barros, os técnicos do governo começam a viver dupla inquietação. No primeiro momento, tendo adquirido certo patamar de renda, e, portanto, acesso a bens de consumo, a nova classe média deixa de funcionar como ente homogêneo, em que o simples repasse de dinheiro bastava para uma ascensão rápida, e sim como classe "extremamente" heterogênea, em que a qualificação profissional ganha maior peso. Em seguida, o governo passará a lidar com uma classe "provavelmente mais conservadora que aquela que ascendeu", (O Valor Econômico)