Certa vez, em entrevista à revista da PWC, eu disse que a política brasileira era uma turbina em reverso impactando a potência da turbina econômica. Os primeiros oito meses de governo da presidente Dilma Rousseff são um retrato perfeito dessa situação, com a política atrasando o bom ritmo que a economia poderia ter.
Um debate político mais qualificado colocaria em pauta, desde já, questões fundamentais, como reforma tributária, reforma política, reforma previdenciária, desoneração do custo de contratação de mão de obra, desburocratização, entre outros temas.
As agendas políticas são essenciais para a construção de um país melhor. No entanto, essa não é a prioridade do Congresso, que, no silêncio do Executivo sobre alguns desses temas, deveria adiantá-los.
A economia, em que pesem as incertezas do exterior e os desafios do câmbio e da inflação no âmbito interno, vai bem e com boas perspectivas. Vamos continuar a crescer.
Na cena política, o governo decolou com turbulência e segue atravessando céus “procelosos”, em meio a raios e ventanias. Desnecessário relembrar a coleção de eventos que afetam seu desempenho. Em especial, a saída de Antonio Palocci da Casa Civil.
Mesmo assim, Dilma mantém sua popularidade em bom estado e, melhor de tudo, conserva poder de iniciativa. A presidente tem, por exemplo, mais popularidade do que Lula no início do seu primeiro mandato. De acordo com pesquisa CNI/Ibope (28 a 31 de julho), 48% avaliam o governo Dilma como ótimo ou bom. Em 2003, no primeiro ano do governo Lula, esse percentual era de 43% em junho e em setembro.
Isso tudo mostra, principalmente, que o brasileiro quer que o Brasil continue avançando na redução da desigualdade, na distribuição de renda e no fim da miséria.
Desde que começou sua gestão, Dilma anunciou vários projetos que já estão em curso: a fase 2 de Minha Casa, Minha Vida; o programa de combate à miséria – que agora terá a parceria de São Paulo; o programa de bolsas universitárias no exterior; e a nova política industrial.
Nesta semana, deve anunciar um programa destinado a expandir a oferta de microcréditos à população de baixa renda. O Planalto tenta, com suas naturais limitações ideológicas e intelectuais, aproveitar o bom momento que vivemos.
Na política, a situação oscila entre a disputa rasteira do fisiologismo e a corrupção escancarada de uns e outros que estão no governo para fazer esquemas. Destaca-se a cara de pau de algumas das “vítimas” do processo de “faxina”.
Dilma não poderia compactuar com tal situação e pode pagar um preço por sua ousadia. Cabe aos brasileiros proteger as boas intenções do governo, dando apoio às medidas de saneamento da administração pública.
O preço, como sabemos, poderá ser a sabotagem de alguns na base. Votações complicadas e obstrução ao encaminhamento de matérias relevantes são esperadas. Um dos temas fundamentais para o governo é a prorrogação da DRU. Pesquisa da Arko Advice com 153 deputados (entre 16 e 18 de agosto) mostra que 43,13% dos entrevistados afirmaram concordar com a PEC, o que equivale a 221 votos a favor. Mas para aprovar uma emenda constitucional são necessários, no mínimo, 308. Um deputado do PMDB chegou a dizer: “Rebelião vai ter mesmo é com a morte da DRU. Por enquanto, estamos apenas mandando um recado.”
Nessa altura dos acontecimentos e no melhor interesse da democracia, devemos tentar trazer a turbina da política para uma posição de empuxe ou de neutralidade, pelo menos. Muito melhor do que desligá-la.
Não podemos abandonar a política nem deixar de saudar as medidas saneadoras da administração. No final das contas, a lavagem das escadarias e dos escaninhos do poder vai valer a pena para todos os brasileiros.