Vinte e cinco anos depois da redemocratização política, o Brasil segue evoluindo. Sem dor e com passos de formiga, vamos mudando nossas instituições com base em vários acordos tácitos e não escritos. Quais seriam eles?
No campo econômico, a fórmula inclui a prudência e a cessão do controle das agências reguladoras de cada setor para figuras confiáveis e afinadas com um modelo sem sobressaltos e sem medidas traumáticas.
No campo empresarial, a receita coloca as três grandes agências de financiamento ao lado dos setores mais importantes. O Banco do Brasil fica com a agricultura; a Caixa Econômica Federal, com a habitação; e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com a indústria.
O poder público completa, controlando diretamente algumas das mais importantes empresas do país, como Petrobras, Eletrobrás, Itaipu, Furnas, Caixa Econômica Federal e exercendo influência por meio de fundos de pensão e do BNDES, por exemplo.
No campo da administração pública, temos um modelo baseado em alta carga tributária, alta empregabilidade e muito gasto. é a cota que a sociedade paga para que a gestão funcione mais ou menos bem no país.
Na política, temos um consenso que mistura clientelismo, corrupção, “grupismo”, nepotismo e aparelhamento do Estado. é a vanguarda do atraso, que retira muito da energia da nação.
Quanto às comunicações, a população se informa pela televisão, cujo noticiário é, salvo raras exceções, bastante superficial. Existe uma concentração na mão de poucos proprietários. Além disso, temos poucos leitores e poucos títulos para um país de nossas dimensões.
De modo geral, o modelo atual guarda identidade com os vários momentos históricos pelos quais passou o Brasil. Nem mesmo o regime militar, em que pese o golpe, mudou a essência de nosso comportamento, que é, no limite, autoritário, excludente, intervencionista, burocrata, cartorial e corporativista, no sentido vulgar.
Nada indica que conseguiremos grandes transformações sob esse modelo. A razão é simples: tal consenso engloba a maior parte dos formadores de opinião e tomadores de decisão. Apenas rupturas inesperadas podem mudar o quadro – algo como um cisne negro de Taleb.
às vezes aparecem pontos fora da curva, como a proposta de controle da mídia, defendida pelo PT. Não vai adiante, já que não interessa a ninguém. Nem mesmo aos principais políticos do país.
Apesar da obviedade do modelo brasileiro, pouco se fala sobre ele. Curiosamente, critica-se a ausência de reformas, mas pouco se avalia por que as transformações são lentas.
Sem fazer juízo de mérito, um dos pontos centrais é que o modelo vigente interessa aos sócios com direito a voto! São opções táticas, destinadas a melhor se posicionar para controlar o poder.
No entanto, as mudanças estão em curso. Lentas, como frisei. Finalmente temos uma moeda forte e reservas abundantes. A inflação se encontra em patamares quase civilizados. A desigualdade diminui. O brasileiro come melhor. A educação está em expansão. O povo apresentou a Lei do Ficha Limpa e exigiu sua rápida aprovação pelo Congresso. As redes sociais já mobilizam a população em prol de causas cidadãs.
Enfim, o amanhã está se desenhando com novas demandas e, quem sabe, transformações. A dúvida está em saber se as mudanças continuarão a ocorrer pelas margens ou se serão aceleradas por um evento inesperado. As marchas contra a corrupção que aconteceram no dia 7 de setembro em algumas capitais – outras já estão sendo programadas para setembro e outubro – estão sendo vistas como sendo parte do processo. Mas ainda é cedo para dizer se são movimentos duradouros ou de vida curta.