Menos de um ano depois da eleição que consagrou Dilma Rousseff como presidenta do Brasil, a base política que a elegeu apresenta sinais de fadiga de material. Tal situação fica evidente nas entrelinhas dos embates políticos e nas declarações e atitudes recolhidas aqui e ali.
Os focos de insatisfação ocorrem de lado a lado. Tanto do Palácio em direção a seus aliados quanto dos partidos em direção ao Palácio. O cardápio de mágoas e irritações é limitado e tradicional: gira em torno de nomeações, liberação de verbas e disputas em votações.
Os pontos de atrito estão localizados no PT, PMDB, PP e PSB, sem contar o PR – que saiu da base sem ter saído de verdade. As eleições municipais de 2012 vão servir de divisor de águas para a atual configuração da sustentação política de Dilma e podem apontar para o começo do fim da coalizão ou para o seu renascimento.
Os sinais são claros. O PMDB, que insinua com frequencia poder lançar candidato presidencial em 2014, afirmou que quer ter candidato a prefeito em todas as capitais. Mais: quer aumentar de 1.175 para 1.300 as prefeituras controladas pela legenda e considera o PT seu principal adversário na disputa.
Na Câmara, a escolha do novo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) também revelou a existência de fissuras. Eduardo Campos, governador de Pernambuco e líder maior do PSB, conseguiu mobilizar forças para eleger sua mãe, a deputada federal Ana Arraes (PSB), contra Aldo Rebelo (PCdoB-SP), candidato preferido de setores do governo.
Na disputa, ficou evidente o racha no PT, onde o grupo liderado pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), apoiou Ana Arraes juntamente com Lula. O líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP), e seu grupo teriam ficado com Rebelo.
O “protagonismo” de Eduardo Campos indica uma real possibilidade de que ele venha a ser candidato presidencial em 2014. No horário eleitoral gratuito do PSB nos programas de rádio e TV, Campos aparece com destaque. A eventual candidatura do governador pernambucano ao Planalto seria afastada caso Lula volte ao páreo. Hoje, porém, o retorno de Lula não é o cenário mais provável.
O PMDB, pelo seu lado, pode ter que inventar um candidato presidencial, já que sente que – no limite – apoiar Dilma na primeira hora não rendeu os esperados espaços no governo. Assim, para o partido, poderá ser mais interessante concorrer, contribuir para a realização do segundo turno e, dependendo do resultado, avaliar que caminho seguir.
Além das reflexões sobre a relação com o Planalto e o PT, o PMDB sofre internamente com questionamentos e insatisfações.
Ainda é cedo para dizer se Dilma perderá de forma absoluta o comando da coalizão tal qual ela se encontra. A seu favor, existem o desempenho da economia, a sua popularidade e o apoio de Lula.
Saindo-se bem no desafio de pilotar a economia do Brasil em um cenário de crise internacional, o poder de Dilma só aumentará. No entanto, o desafio político está posto e tende a ser cada vez mais complexo manter a coalizão unida em 2012. Imaginem em 2014?
Faltam organização e agenda de prioridades na gestão política do governo. Sobretudo, uma gestão da base de forma a minimizar os riscos. Não são defeitos de agora. Porém, eles sobressaem por conta das características da nova gestão – mais técnica e voluntarista e menos carismática.
No cenário de curto prazo, um racha de grandes proporções parece improvável. Apenas um fato extraordinário, como a eclosão de um novo escândalo, poderá precipitar um rompimento. Mas as condições para que tal ocorra a médio prazo já estão postas e, infelizmente para o governo, o correr do ano apenas agravou a situação.